Alta da Inflação no Brasil e no Mundo: Motivos e Perspectivas
Alta da Inflação no Brasil e no Mundo: Motivos e Perspectivas
Transcorrido mais de um ano e meio desde o início da Covid-19 e depois de superada a fase mais aguda da pandemia, mesmo com o surgimento de novas variantes do vírus que impede o retorno completo à normalidade, a população mundial gradativamente vai retomando suas atividades cotidianas e tentando retornar aos comportamentos usuais anteriores à crise sanitária e os países vão trabalhando para recuperação das atividades econômicas.
Nos últimos meses surgiu um novo fenômeno global, que está afetando a recuperação econômica de diversos países, tanto os de economia avançada como os de economia emergente, que é a alta descontrolada dos preços de produtos e serviços, principalmente dos alimentos, transportes, combustíveis, gás de cozinha e energia elétrica.
Quando se trata de inflação alta nos acostumamos a ver isso como algo restrito ao Brasil, porem hoje esse fator está preocupando os países que historicamente sempre apresentaram índices de inflação baixos como é o caso dos Estados Unidos, alguns países da Europa, Japão e China. Mas qual os motivos dessa aceleração desenfreada da inflação no mundo?
Na opinião dos analistas de economia os motivos para o aumento de preços global é o valor do barril do petróleo que dobrou nos últimos 12 meses, a desorganização das cadeias produtivas durante a pandemia, a retomada do consumo após a reabertura da economia, os danos causados pela crise ambiental, as desvalorizações cambiais, a crise energética que atinge de forma mais intensa a China e a Europa, a escassez de mão de obra, a alta das commodities e a escassez da oferta de insumos, entre outros.
A inflação alta é um problema relevante que afeta a retomada da economia mundial. A escalada dos preços em todos os setores, principalmente da alimentação tornou-se motivo de preocupação para o consumidor, para os governantes e para o mercado financeiro.
Perspectivas para os Próximos Meses
O panorama que se desenha é de novos aumentos de preço para os dois últimos meses de 2021 e para os primeiros meses de 2022. Para alguns economistas, embora seja esperado uma redução da inflação na maioria dos países, as perspectivas são bastantes incertas, com risco de a inflação continuar em alta por mais tempo.
O prognóstico do Fundo Monetário Internacional - FMI é que os índices da inflação retornarão aos níveis anteriores a pandemia em meados de 2022, tanto nos países de economia avançada como nos países emergentes. Essa análise consta no relatório elaborado pelo FMI e publicado pelo Word Economic Outlook, em outubro de 2021.
O relatório aponta que “o aumento acentuado dos preços da habitação e a prolongada escassez de oferta de insumos nas economias avançadas, nos mercados emergentes e na economia em desenvolvimento, além de continuadas pressões nos preços dos alimentos e as desvalorizações cambiais, neste último grupo, podem manter a inflação elevada por mais tempo”.
As projeções do FMI é que nas economias avançadas a inflação atinja, em média, um pico de 3,6% nos últimos meses desse ano, antes de reverter para 2% no primeiro semestre de 2022, em linha com as metas dos bancos centrais. Os mercados emergentes terão aumentos maiores, atingindo a média de 6,8% e em seguida recuando para 4%.
Para o economista Maurício Godoi, o ritmo da alta de preços só deve desacelerar no segundo semestre do ano que vem. Ele considera que: “esse processo de inflação deve permanecer ainda em 2022, mas não tão forte quanto nós tivemos nesses últimos 12, 15 meses. Então temos uma manutenção da subida de preços, mas em uma velocidade menor. Não estamos falando que vai ter uma deflação, não, os preços vão continuar subindo, mas vão continuar subindo em uma velocidade menor”.
De acordo com o relatório de FMI um dos itens que representam uma parcela considerável dos gastos de consumo da população, que são os alimentos, tiveram seus preços aumentados em torno de 40% durante a pandemia na maior parte dos países.
O Índice de Preços dos Alimentos da Organização da Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAO atingiu um percentual recorde em setembro de 2021, com 130,0 pontos. O doutor em Demografia, José Eustáquio Diniz Alves destaca que existem diversos fatores que pressionam a alta de preços dos alimentos como o crescimento populacional, o agravamento das questões ambientais e os eventos climáticos extremos, porém ele considera que a subida de preço dos combustíveis fósseis a partir do segundo semestre do ano passado coincide com o aumento desenfreado do preço global dos alimentos.
Panorama da Alta da Inflação no Brasil
O Brasil tem a vigésima terceira maior inflação do mundo. Entre as nações que compõe o grupo das maiores economias do mundo, o G-20, o Brasil está em terceiro lugar no ranking de inflações e fica na quinta posição entre os países da América Latina e da América do Norte.
Os especialistas em economia descartam a possibilidade dos índices da inflação no Brasil chegarem aos patamares dos da década de 1980, em que as remarcações de preços dos produtos e serviços ocorriam quase que diariamente.
Entretanto, as constantes alta de preço dos alimentos tem reduzido o poder de compra das famílias brasileiras, transformando a simples ação cotidiana de fazer compras no supermercado em uma tarefa cada vez mais difícil para se manter dentro do orçamento familiar.
A questão é: se o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, por que esse item de subsistência está tão caro no país?
Uma das explicações dada pelos especialistas em economia é o efeito em cadeia que ocorre na composição dos custos dos produtos e insumos utilizados na produção dos alimentos tanto de origem vegetal quanto de origem animal. Como muitos dos insumos e das máquinas utilizadas na produção agropecuária no Brasil são importados, a variação do dólar provoca um aumento nos gastos da produção, logo esse aumento é repassado para o consumidor final.
A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, Maria Andréia Parente Lameira explica que os altos preços pagos pelos alimentos no Brasil terminam sendo potencializados pela variação do câmbio, visto que, alguns produtores brasileiros deslocam parte de sua produção para o mercado internacional, porque gera uma maior rentabilidade para seu negócio. Esse fator também impacta no aumento no preço dos alimentos no mercado consumidor do país.
A combinação de crise econômica, crise social e crise ambiental estão afetando demais as condições de vida da população dos países de economia emergente. Para solucionar a questão de descontrole na inflação e acelerar a recuperação econômica de todos os países, o FMI alerta que “é necessário um grande esforço político no nível multilateral sobre a implantação de vacinas, mudança climática e liquidez internacional para fortalecer as perspectivas globais”.